quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Centro Histórico

Tingiram as paredes descascadas

Ocultando o velho que não se disfarça

Impuseram novo em anciã fachada

Iludindo o olho na moderna farsa


Vendendo para pagar o imposto que se taxa

No anseio de encher de níquel e ouro as calças

O lojista ao seu modo a história esculacha

Descambando em vida sem sentido, pobre e falsa


E nas calçadas passa o povo que consome

Carregando em mãos vazias bolsas fúteis pelas alças

Repletas de coisas inúteis, vãs, mas que tem nome


Sísifos erguendo o drama e a dor de sua raça

Bestas abstratas irreais que com olhos sentem fome

Esquecidas do passado, levam vida tão descalça...

Impudica

Em campos minados

arriscam-se os pensamentos

descambam por veredas

desfazem-se sedimentos

deixam rastros alamedas

restos claros pelos lados


Explicitamente traçados

com amarras d'outros tempos

não omitem suas sendas

os devaneios ao relento

emboscadas muitas presas

sem receio de pecado


Nesses campos de batalha

na volúpia da labuta

não descartam com navalha

os segredos lá da gruta


Sem mistério estraçalham

os pudores da conduta

sem receio dos que ralham

das ações da alma puta

Di Cavalcanti, Revista Selecta, 1919

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Num banco de praça

O verbo se perde
lerdo
atordoado
no ranço pardo
do papel manteiga
que largo
num canto qualquer
do largo junto ao pátio
do colégio
onde canta o tordo
e caminha o coro dos impuros
em louvor régio

Impreciso relógio
badala minha possível inexistência

Vermelho intenso