sexta-feira, 1 de julho de 2016

SEM SENTIDO

Olhares mirabolantes
aos milhares
elaboram palavras
que falam sem som

Olfatos sensíveis
de fato
aspiram sentido
no fragor do incenso

Incêndios na pele
inflamam
chamando em apelo
fulgor dos que amam

Sabores tão breves
tão graves
abreviam a vida
amamentam nas trevas

Na trave dos ouvidos
agudos
rasgando aos gritos
suplicam sentido

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Emaranhado atemporal

Vagas lembranças de longos abraços
invadem o ciclo estável da concentração
Desejos distantes apontam no cimo
cume nevrálgico da supra-razão

Deslizo no limo incerto
mergulho no lodo secreto
rompo as leis de concreto
vi, vendo você bem mais perto

Tremendo, aumento o momento
vivo, salivo, sedento
solapo camadas de sedimentos
desfaço em pó o cimento

Relevo as cartas e a calma das costas
releio as curvas teu corpo que acorda
relembro de curtas e côncavas covas
retorno das musas paixão boas novas

Respiro teu ar e me atiro
vazio, longe o chão de pisar
repito as rugas, sorriso
teus olhos, lanternas de mar

Meus gestos acusam o verbo que calo
quieto e seguro acerto no alvo
eterno perfume me guia, me salvo
na relva, teu lúmen, eu corpo, te falo.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Noel Rosa

Foi com grande prazer que me deparei com este documentário sobre nosso impagável Noël Rosa. O trabalho é obra do blog Bossa Brasileira administrado por Thiago Mello, pesquisador musical, restaurador e designer gráfico que merece todas as palmas por realizar esse trabalho de resgate de nossa história. Navegando contra a maré da maioria da população, vem descobrindo a cada dia mais riquezas de nossa música, obscurecida pelo tempo - impiedoso com a memória. Deliciem-se com o vídeo, e visitem o Bossa Brasileira. A nossa música agradece.

Treinamento de Atores

Desenho feito durante treinamento de atores do Grupo de Teatro Artesãos de Dioniso, em 18set0

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

2002



Uma Estação: Inferno. Grupo de Teatro Artesãos de Dioniso, Florianópolis, 2002. Foto de Nico Nicodemus

Fênix

Após mais de um ano de silêncio e olhos fechados, retorno a este espaço metafísico, com uma certa saudade e um certo gosto de ressaca no paladar. Questiono-me acerca de publicar meus monstros verbais, o que me leva a pensar se não deveria quebrar a caneta esferográfica e bloquear o teclado para a ficção e o devaneio. Muitas vezes pensei em retirar o Litheratos da rede, porém alguma patetice interior impedia-me de fazê-lo. De tal maneira que ainda está aqui e, agora, após a reaquisição de internet em casa, e de algum tempo livre, relutante em ceder ao ataque massivo de Cronos, ressurge das cinzas, qual Fender incendiada.
Penso em rebatizá-lo, qual paixão nova, de modo a evitar os desgastes da velha relação e o ressentimento do abandono. Quem sabe o vento do cooler não me sopra algum nome...

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

domingo, 1 de novembro de 2009

Sentir a tua falta

Quero sentir a tua falta mais sincera
como o medo que até a vida cala
tal qual o frio que a voz congela
e a navalha que no pêndulo badala

Pois a presença que se demonstra ausente
é como sentir-se devorado por uma fera
que não come por estar morta ou doente
e nos olha indiferente, como a uma pedra

E tua mão que sutil na rede meu sono embala
no pesadelo vil, vem e com punhal me assalta
expondo a todos minhas chagas em ampla sala
e sendo assim, melhor então sentir a tua falta.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Laurindo Almeida e The Modern Jazz Quartet - Samba de uma nota só

Música concreta

Surdo feito uma porta
canta para as paredes

Gata de armário

Alvorando

Pairando na aura da alvorada
vem veloz o invisível vento
varrendo o pó da estrada
sussurra o som dos pensamentos
sutil como se não fosse nada

Sobre a copa do arvoredo
vejo o vulto da revoada
que desperta assim tão cedo
no vibrar das asas sincopadas
acompanhando o canto em contratempo

atrás dos montes o sol revela
timidamente a clara fronte
e assim que iça e incendeia as velas
não há olhar que o confronte

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Feito uma porta

Semana que vem farei uma prova para tentar entrar no curso de música da UDESC. Num processo de autopateticismo tive uma inflamação nos ouvidos, que agora estão tão entupidos que só ouço zumbidos... Será hilário fazer a prova de solfejo surdo feito uma porta. Espero que os sons voltem a martelar minhas bigornas o quanto antes...

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Centro Histórico

Tingiram as paredes descascadas

Ocultando o velho que não se disfarça

Impuseram novo em anciã fachada

Iludindo o olho na moderna farsa


Vendendo para pagar o imposto que se taxa

No anseio de encher de níquel e ouro as calças

O lojista ao seu modo a história esculacha

Descambando em vida sem sentido, pobre e falsa


E nas calçadas passa o povo que consome

Carregando em mãos vazias bolsas fúteis pelas alças

Repletas de coisas inúteis, vãs, mas que tem nome


Sísifos erguendo o drama e a dor de sua raça

Bestas abstratas irreais que com olhos sentem fome

Esquecidas do passado, levam vida tão descalça...

Impudica

Em campos minados

arriscam-se os pensamentos

descambam por veredas

desfazem-se sedimentos

deixam rastros alamedas

restos claros pelos lados


Explicitamente traçados

com amarras d'outros tempos

não omitem suas sendas

os devaneios ao relento

emboscadas muitas presas

sem receio de pecado


Nesses campos de batalha

na volúpia da labuta

não descartam com navalha

os segredos lá da gruta


Sem mistério estraçalham

os pudores da conduta

sem receio dos que ralham

das ações da alma puta

Di Cavalcanti, Revista Selecta, 1919

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Num banco de praça

O verbo se perde
lerdo
atordoado
no ranço pardo
do papel manteiga
que largo
num canto qualquer
do largo junto ao pátio
do colégio
onde canta o tordo
e caminha o coro dos impuros
em louvor régio

Impreciso relógio
badala minha possível inexistência

Vermelho intenso