sábado, 27 de junho de 2009

Tráfego da imagem

O que interessa nesta imagem não é a imagem propriamente dita, mas sim o processo pelo qual passou: Em 2001 fotografei esta cena de um filme que passava na televisão (O qual não anotei o nome). Utilizei-me de minha velha Pentax Program-A 1985; em seguida revelei o filme em meu laboratório PB. Lembro-me que gostei do efeito da falta de perspectiva resultante do registro. Depois a imagem ficou esquecida em uma daquelas caixas das memórias guardadas envoltas no pó e no bolor dos tempos.
Há cerca de uns dois meses atrás, fotografei a fotografia com minha digital Sony DSC-W170 e, agora, a imagem retorna ao mundo do efêmero e elétrico, não na TV, mas no computador. Agora, porém, não há mais movimento.

3D

Charada

Vinte passos eu dei
Sem saber aonde eu ia
Vinte passos eu daria
Sem saber por onde andei

Vinte dias se passaram
E de casa eu não saía
Vim de casa e não sabia
Onde ia ou onde estava

Me procurava,
E não me achava.
Aonde estava?

Eu não estava...

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Milton Nascimento e Elis Regina - Canção do Sal

Elis Regina - Corsário (João Bosco - Aldir Blanc) 1976



Sem muitas palavras. Elis foi a melhor cantora que já existiu, e viveu um momento de ouro para a música brasileira, onde a criatividade ultrapassou e deixou em frangalhos todas as barreiras.

Realismo Abstrato VI

terça-feira, 23 de junho de 2009

As cascas caem
da parede que decresce
O vidro opaco pelo pó
nada diz
ofusca o que há lá fora
O velho envolve
o olho
de mim que estou
aqui agora

Oxidutos gotejam a vida
que se esvai

Absurdo: de saída
minh'alma sai

Hai Kai mínimo

Smurf
no orvalho
pratica surf

Pessoa

De quem é o olhar
Que espreita por meus olhos?
Quando penso que vejo,
Quem continua vendo?
Enquanto estou pensando?
Por que caminhos seguem,
não os meus tristes passos,
Mas a realidade de eu ter passos comigo?

Às vezes, na penumbra
Do meu quarto, quando eu
Para mim próprio mesmo
Em alma mal existo,
Toma um outro sentido
Em mim o Universo -
É uma nódoa esbatida
De eu ser consciente sobre
Minha idéia das coisas.

Se acenderem as velas
E não houver apenas
A vaga luz de fora -
Não sei que candeeiro
Aceso onde na rua -
Terei foscos desejos
De nunca haver mais nada
No Universo e na Vida
De que o obscuro momento
Que é minha vida agora:

Um momento afluente
Dum rio sempre a ir
Esquecer-se de ser,
Espaço misterioso
Entre espaços desertos
Cujo sentido é nulo
E sem ser nada a nada.
E assim a hora passa
Metafisicamente.

- Fernando Pessoa -

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Manuela 1996

Veja bem:
Sem você não sou ninguém
Tua voz me tira
Da mais profunda catatonia
De densa névoa
E negras águas

Teu corpo revira meu peito
Sacode o leito
Onde ontem eu só dormia
Teus lábios falam minha língua
Lânguidos sussurros
Evocam infância tardia
À tarde
de noite
todo dia

veja bem:
sou você e não sei mais quem
sou a cor de teus olhos,
teus seios,
que cada curva sei decor

e salto ao lado
de teu sono sereno
suspiro afagos de corpo pleno
sem planos nem apego
e eis que me pego a cantar:
sou um ego que é só sossego