sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Um casal de bicho-pau

As minhas vizinhas

As minhas vizinhas não fazem churrasco nem azucrinam com música alta. Cortam a grama e adubam o solo. Não fazem intrigas. são realmente muito tranqüilas.

Gestalt

Caminhava pelas ruas abarrotadas eclodindo informações das quais nada digeria. Da cápsula de seu eu vazio o mundo parecia inerte e inútil. Postes, pregos, pessoas, tudo com o mesmo grau de insignificância: não cogitava avaliar aquilo que ignorava.
Posto que assim insensível ao não-ego, deveria ter se espantado, ou ao menos posto em questão o motivo pelo qual olhou para ela e imediatamente A VIU! Mas não: simplesmente a viu, caminhando em meio à banalidade do ilusório, não bloqueou seus instintos, segurou-a pelo braço, conduzindo-se ambos até a cafeteria mais próxima onde rabiscaram a mesa inteira e de onde decidiram nunca mais sair.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Agônica (Em M.R.U.)

Deixou os nervos
estendidos no varal
defumou os olhos
com a fumaça
da central
e com o sal
de suas lágrimas
não teve o destino que teve
nossa senhora de fátima
não viu virgem maria
só via agonia
despejou seus restos no quintal
e pra esquentar seu corpo
abraçou um caminhão
que na contramão
veio em sua direção
e lhe estendeu a mão.

Édipo

Podei os pés de Édipo
e os pus onde não podia.
Brotava pus de suas feridas
donde vinha um cheiro fétido.

Frente a isso
disse ele nunca ter tido pés
pois há muito não os via.
Mas não era o que todos diziam:
em Tebas sempre foi certo e sabido
que aqueles pés inchados
revelavam um pútrido pecado.

Mas Édipo não pode ver:
seus olhos estão cegos para tudo que machuque seu ego.

Paranóia

Nas esquinas por onde passo
há sempre um palhaço
a me perturbar.
Seja perto da Matriz
ou no Morro da Imperatriz
é tanto estorvo que não sei
como inda sou feliz.

Mal saio de casa
de manhã cedo
e já peço para o sol se pôr.
Não sei se é paranóia
ou mal-humor
mas já saio de casa com medo
da muvuca que me desagrada.

Eu tenho medo que um dia
eu me incomode até com minha alma.
Por isso sempre peço baixinho,
em segredo:
“Calma, alma, calma.”

- Samba-ficção baseado em fatos surreais -

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Cotidiano nº 3 (Como diria o sociólogo de plantão)

Os motoristas, acostumados a dirigirem barcos, ancoram seus carros com todo estardalhaço. Do rio-estrada rompem do braço o leito das calçadas, habituadas a suportarem apenas palhaços, pés descalços e peitos humanas plenas.
Encostados os carros, atracam seus pés na lama. Caminham a passos largos rumo aos seus encargos. Acocoram-se nas sarjetas dos escritórios - escrotos vomitórios de tarjetas comerciales - embrenham-se nas gretas das máquinas em que arvoram-se. Fruto de todos os males, qual óleo invadem o lençol freático aos milhares por segundo, num ritmo frenético, porém moribundo.
Ao cair da tarde evadem-se para suas casas, de nada tornam-se estradas, receptáculo oco pisoteado pelo eco das imagens do santo oráculo - televisão.
Entretando o dia acaba. De estrada, na cama tornam-se espada, heróicos cavaleiros que no gozo a parceira arrasa. Arremessam-se no sono justo que a manhã arremata. Mergulham na cascata de carros-fragata conduzidos por aqueles que ancoram nas calçadas.
De novo tornam-se nada.
13dez8 8am

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Hai kai

Calor torpor
Em teu fogo
Derreto qual isopor

Corpo abstrato

Ao meu amigo

Escrevo poesia como forma de ludibriar a afasia à qual o mundo me condena.
Versos-desabafos afagam meu ego
Sinto-me mais leve com tais brinquedos lúdicos.

Tambosi não teve a mesma sorte
A pa(nela)ranóia depressão foi mais forte
Terço-rosário com contas demais
Berço de pregos para um neném cego.

Foi praga de alguém?
Mau-olhado?
Ou mal amado?

Drama universal
Tambosi trama jornada sem nau
Odisséia de duras pena
Castigo de Zeus
Abandona-te Palas Athena

Pelas tabelas ando com minha cabeça longe de ti.
Traço meu destino herculeurbano
Confundo as identidades que o mundo me traça:
Sísifo, ou Atlas?
Tanto faz, se o peso me destroça
Qual roupa roída por traça
Sinto que em mim reside a praga
Sou caixa de papelão
Incubando milhares de ovos de baratas

Drama universal
Pois que não estamos sós:
Maternidade perniciosa e autofágica:
É isso que todos somos:
Geramos em nós o monstro
Da Sociedade de Tortura de Massas
Cujo sumo nos consome
- nós que tanto consumimos –
Consome a alma,
E o corpo some.

É por isso que devemos então cantar.
Tambosi, tens que cantar
Abrir os braços para a dança das partículas
Sair desse canto obscuro em que te escondes
Verter um cântaro de poesias
Palavras jorrando da moringa da memória
Na mais absoluta amnésia.
Ano após ano esquecer os atropelos
Converte-los – trombadas e apelos –
Em trovas, traços, abraços
Afeto para os aflitos.
Afluentes de fantasia encontram-se
Formando minha amazônica poesia
Que desemboca no oceano da nostalgia.
Depois, em ondas choca-se
Com as irresolutas falésias da metrópole-fadiga.

E por mais que digam
Que tua força esvaiu-se,
Duvido de tal farsa.
Nosso tempo passa
Os dentes caem e
Os osso viram carcaça
Mas ‘inda resta dentro de nós
O lampejo de uma alma devassa
Que devasta ferozes regras e bulas
Desmascara àquele que adula ao seu carrasco.

À borrasca ruem os ritos, valores
Sucumbem ícones e ditos populares
A dona de casa de nossas cacholas
Não é Dolores, não está nos lares:
Ao contrário, está nos bares
É feia
E tem asas:

Arrebata harpiacalmente
Aos pequenos roedores covardes
Que comem sementes nas pradarias incomensuráveis
Nega a censura e repudia a tortura
Não atura desaforos
Desabafa quando lhe melhor convir.

Aproxima-te dessa megera
Que em todos nós habita.
Quem nasce para ser maldito
Nunca há de ser donzela.

Por isso escrevo – e escreves –
Poemas, mesmo que breves,
Pois que senão quem nos devora
Não são aqueles que estão lá fora
E sim aquele que em nós mora:
A nossa própria fera!

Lagoa do Peri

Na Estação

Estava imerso em uma estafa imensa, sem vontade de erguer a carcaça. Sentia o corpo doer. Uma ausência de pensamentos a remoer-me por dentro. Olhava, apático, pela janela, sem perceber quão rápido o dia passa.
É então que vejo chegar à estação uma maria-fumaça. Uma maria-fumaça que chacoalha esta deserta cidade estática. Dela desembarcam dois jovens com ares de desertores, daqueles que abandonam a metrópole em busca de sossego no deserto. Cabelos compridos, violão na mão, barraca, mochilão. Desembarcam e vêm em minha direção – posto que sou o chefe da estação – e me perguntam “por favor, é aqui que fica o topo do mundo?” ao que respondo ‘estação errada: aqui é o FIM do mundo.”
“E qual é o mais isolado de todos?” me perguntam “queremos ficar longe de tudo”
“Tanto faz” respondo “posto que o verdadeiro isolamento encontra-se no ser, não importa muito estar no topo, no fim, ou longe de tudo. Mas porquê vocês, tão jovens, desejam isolar-se assim?”
“Estamos cansados de tudo. Não suportamos mais nada.”
“Então é uma questão de tudo ou nada, não? Pois bem, sejam bem vindos ao fim-do-mundo. Só não esperem encontrar mais alguém depois de mim: eu sou o último. Ah, cuidado com a escada.”E eu fiquei ali, observando aqueles dois se afastarem, afastando-se, afastando-se, até sumirem na cidade que é um inexistência só. Pareciam felizes, ou pelo menos satisfeitos. Carregavam um brilho nos olhos e uma esperança que ofuscava uma oceânica desilusão. Ao longe, um deles pegou o seu violão e, caminhando, dedilhou uma melodia cujo nome poderia ser “Suave”. Suave melodia que até hoje, nos dias de ventania, ainda posso ouvir, mesclada com nuvens de poeira que ofuscam minha visão.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Fellini

Narciso

Narciso faz
De piso liso
[com frisos
E rubros veios]
O seu espelho

Navega pelo mar
Indeciso
Sem saber-se
Lindo ou feio
Se está indo
Ou se veio

Desfeito

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Rave


Poesia dos homens e das coisas

Homens são homens
coisas são Coisas.
Coisas não se casam
não criam caso
coisas só somem
quando o homem
mete a mão.
Senão,
continuam ali
na sua eterna condição
de coisa.

Homens somem quando quiserem
quando interferem
ou quando é um bom negócio.
Homens não têm ócio
nem as coisas
pois ócio
é palavra dos homens.
Aliás,
as coisas não têm palavra alguma
pois qualquer uma
— não escapa nenhuma —
é coisa dos homens.

Homens são homens
coisas são coisas
Coisas não fracassam
e só ficam escassas
quando o homem as gasta
ou desgasta.

Coisas não pedem resgate
nem fazem esgotos
não provocam desgostos
nem têm mau gosto;
coisas não chamam agosto
de o mês do cachorro louco.

Loucos são os homens.
E coisas são coisas.
Homens bombardeiam
e coisas são coisas
Coisas só explodem
por culpa dos homens.
Já os homens,
explodem as coisas
outros homens
e a si mesmos
que também são homens.

Homens escrevem
descrevem
proscrevem
fazem greve
cantam grave
e agudo
enfiam agulhas em coisas
homens
e bonecas vodú
(que também são coisas)

Homens inventam
desinventam
e reinventam
vão p’ro convento
e p’ro mosteiro
soltam morteiros
mentiras
martelam
protelam
criam problemas
emblemas
lemas
dilemas
e matam lesmas
que não são homens
nem coisas
lesmas são bichos
que o homem trata
como coisas
e coisas não reclamam
e como homens
não entendem a fala dos bichos
pensam que bichos são coisas
e coisas não sentem
pois quem cala,
consente.

Já os homens,
os homens sentem
consentem
são decentes
e indecentes
dão presentes
estão presentes
são pais ausentes
têm dor de dente
ficam doente
dementes
dormentes
dormem
acordam
recordam
discordam
concordam
competem
conferem
ferem
ferem
ferem
falam
firmam contratos
tiram retratos
produzem maus-tratos
vestem trapos
e roupas finas

Homens são homens
mulheres
velhos
velhas
meninos
meninas
e gays


Homens são gays
reis
freis
e freiras
que vão para os conventos

Homens são feios
e feias
os outros são modelos e artistas
homens constroem pontes e pistas
procuram pistas sobre a origem dos homens e das coisas

e as coisas são coisas
as coisas não têm casa
e nem todos os homens têm.

Homens têm direitos humanos
códigos jurídicos
leis orgânicas
direitos civis
código morse
e jardins botânicos.

Jardins botânicos têm plantas
Que não são homens
nem coisas
e nem bichos;
plantas são plantas
e no Brasil
[que é uma coisa imensa]
as plantas são dos japoneses
dos europeus
e de outros homens
menos dos brasileiros.
[que também são homens]

Coisas não têm direitos coisanos
nem direito de propriedade material
ou intelectual
Coisas não têm direito nem a elas mesmas.



Os homens dizem que as coisas são dos homens.
Mas os homens não são das coisas.
E coisa nenhuma vai dizer
coisa alguma contra isso
pois homens são Homens
e Coisas são coisas.

Homens imitam
visitam
vomitam
Coisas, bem, coisas ... coisam!
Homens são mais
e menos que homens
pois homens que são homens somem
pois sentem vergonha de serem homens.

Homens são tudo
e são nada

Homens são homens
e coisas são coisas.

Mas na verdade,
na verdade mesmo,
o homem é uma COISA!

Patrícia


terça-feira, 25 de novembro de 2008

Ilustração dois

Deusa afro
e Afrodite
se amando
sob telhado de amianto
(marca Brasilit)

Surreai-kais

Astros comem ostras com mastruz
no mastro da torre mais alta
da terra da avestruz

Ilustração

Rejeitos e dejetos
despejados nos rejuntes
dos azulejos laranja
da granja cujas
engrenagens das máquinas
enferrujadas rangem

Rufar

Salva de tiros ecoa no ar
rufam os corpos
cantam os tambores
em cada canto da praça

O campanário iluminado
— quase que um sol —
no coreto a corista
e um corvo cantam a solidão:

Salve a última gota de saliva!
Viva a garganta ressequida!
Saúde, ó grito estridente!
Canta, andarilho, seu repente:

“Quase não sei mais
se vou ou se volto atrás
cruzo a praça
sou uno,
sou todas as raças”

Ressoam os risos na relva;
revoada de pombos na cruz
o velho canta uma toada
(palavras fortes demais
para uma balada)

Abalam-se as pedras
freiras, frades e padres
rufam os trovões
escurece, chove,
e mais nada.

Espasmo

Olhos no assoalho
O nariz assoa
A última gota
De suor derramado

Soa um martelo
Na bigorna e
Tenho um derrame,
Derreto e escorro
Pelos ramos que,
De tantos,
Nem sei mais somar.

Sacolejo somático,
Caio azul no chão de
Azulejos e sofro um espasmo asmático

Pai ausente

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Depois da Milaneza, só caramujo...

O olhar literário-antropológico de uma brasileira no oriente médio. A Lila, com seu ótimo humor nos presenteia com momentos divertidíssimos em suas experiências ante o choque cultural, e o choque consigo mesma. Quer viajar?

Brazil on Guitar - Baden Powell

Para quem toca violão e é obcecado pela obra do Baden, esse é O site! A cada mês é disponibilizada uma nova transcrição (E as transcrições são muito boas), disponível em PTB ou PDF. Não bastasse isso, o site apresenta ainda uma discografia detalhada, com comentários sobre cada gravação, músicos que participaram e até mesmo qual violão Baden estava usando!!! Quer mais? Vá lá e confira!

Veja

Veja bem:
Sem você não sou ninguém
Tua voz me tira
Da mais profunda catatonia
De densa névoa
E negras águas

Teu corpo revira meu peito
Sacode o leito
Onde ontem eu só dormia
Teus lábios falam minha língua
Lânguidos sussurros
Evocam infância tardia
À tarde
de noite
todo dia

veja bem:
sou você e não sei mais quem
sou a cor de teus olhos,
teus seios,
que cada curva sei decor

e salto ao lado
de teu sono sereno
suspiro afagos de corpo pleno
sem planos nem apego
e eis que me pego a cantar:
sou um ego que é só sossego

Hai Kai

Silêncio, clemência:
Hortêncio
Sofrendo demência

Fuga

Deitado sob céu de diamantes
acariciado por luz de pérola gigante
adormeço antes da alvorada
mas sinto o calor
da estrela maior
com sua cor
vermelha
amarela
rosada

Roço minha nuca no gramado
sinto o roçado repleto de orvalho
sento, giro meus olhos pra todo lado
ergo-me, e o lodo, do corpo, chacoalho

O lugar onde repousei esta noite
é um ermo só
Quase esqueci do açoite
como também de meu rosto
enterrado no pó

Agora é hora de seguir novos passos
me perder na eternidade destes passos
imenso, drummondiano mundo vasto
e abrir a boca, somente para imitar os pássaros.
9dez3

Espasmo

Olhos no assoalho
O nariz assoa
A última gota
De suor derramado

Soa um martelo
Na bigorna e
Tenho um derrame,
Derreto e escorro
Pelos ramos que,
De tantos,
Nem sei mais somar.

Sacolejo somático,
Caio azul no chão de
Azulejos e sofro um espasmo asmático

Acho que vi um marciano


Valores

Entre os pilares que sustentam a marquise
do prédio onde situa-se
a bolsa de valores,
estava sentado um homem
forte,
perfumado,
barba feita,
roupa impecável,
maleta de couro de crocodilo
na mão direita.

Quanto à outra
- a esquerda -
a mantinha com a palma
virada para cima,
e pedia esmolas
para aqueles que passavam
ao seu lado.

Conselho

Como se em sua demência
eu pudesse dizer que você
está em decadência
e assim tudo fosse mudar.
Como se isso bastasse
como se você se abastasse
de certeza e de razão
e então abastecesse
teu curriculum vitae
de boas referências

É com urgência que te peço para voltar
Não, não volte para o seu lar:
Volte para a terra
Pois neste mundo
Não é só tua cabeça que está em guerra
Agarre-se na corda que te deixo,
Estirada pelo caminho.
Não olhe para os lados
Pois há espinhos.

Volte para o chão
Cole teus dedos ao solo
Mas use cola fajuta
Para que ainda possas pular
E driblar os alvos
Que cismam em ser teu ar.

Arquejas teu corpo?
Arfas?
Sentes falta da última safra?
Não sofra!
Agarre um os dois garfos,
Devore o que está rente aos teus dentes
Dê mostras de liberdade
Diga o que todos sabem:
Em tua desrazão
Encontro muito mais lucidez
E sanidade.

domingo, 23 de novembro de 2008

Pataria


Conspiração

A impressão
do príncipe-cão
é ter que
convencer
a população
de que não
comerá ossos
que sejam
nossos
e nem que
haverá alguém
dentre nós
deixados a sós.

A impressão
do príncipe-cão
não é em vão
pois do chão
cresce
como uma prece
um grave grito
anunciando conflito
rompendo os ritos
deixando o cão aflito.

Alvorada

Alvorada
é um brotar
de cantos de pássaros;
é o renascer das moscas
adormecidas nos fios do varal;
é a dança cambaleante dos
morcegos cegos pela luz
nos céus da cidade;
é um véu de nuvens
que despe o solo
marcando sua pele
com gotas de orvalho;
é o velho
acordando mais cedo a cada dia
por estar cansado de dormir
por não ter mais o que sonhar
ou por ter consciência
de que não pode perder tempo
dormindo seus derradeiros instantes.

A alvorada anuncia
a força planetária
que somente aqueles que estão muito vivos
conseguem perceber.

É o poder da luz solar
que invade todas as entranhas da Terra
até mesmo na escuridão das cavernas
e nas profundezas abissais do oceano.

E é também aquilo que ergue o poeta
de sua cama, inda sonolento
para escrever e ler palavras — não mais suas —
adubadas pelo sol.
30113

sábado, 22 de novembro de 2008

Medo de Vampiro







Falecido de Antunes

Em fontes murmurantes
é que o corpo se vê,
fervilhando, desgastado,
sobrevivente suspenso em tendões
qual último soldado
no campo da batalha

ainda...

Ainda à espreita,
vigília eterna
músculos tensos
não pode sentar-se:
há muitos corpos no chão

ainda.

As fontes murmuram
todo rumor de morte
nos metros e metros
de campos calejados
pela peleja

“Muy lejos están los abrigos
no hay vencedores”
Só há o corpo,
cedendo às dores,
mas suspenso.

Ainda.

O corpo se vê
na água mal refletida
pelo espelho humano.
Imagem tosca
na carne ferida
uma tosse
um escarro fétido
vermelho
um último suspiro
um adeus à ninguém
e, enfim, a partida.

Galináceos

De todos os ângulos
só vejo
a manada
de frangos degolados
a desandar.

Apenas suas penas
permanecem
no lugar.
De resto
Não restou nada.

Estrangularam
os frangos:
Estrogonofe
De frango,
frango,
rango!

Depenaram o frango;
o frango descarnado,
desencarnado;
o frango, ó frango...
sofrido, frango frito,
despenada almapenada.

Olho


O Paquiderme

O pequeno paquiderme
empacou seu corpo
no meio da pacata
cidade
ele e sua epiderme,
inerme, inertes,
ele, o círculo
de capatazes
que se formou
à sua volta.
Ele;
sua epiderme;
e os capatazes
a lhe gritarem:
“Verme!”
“Verme!”
“Sai daí, ô paquiderme!”

Pobre paquiderme,
empacou em local proibido
atravancando o trânsito estrangulado...
Aproveitando o fato,
o guarda do distrito
ordenou ao soldado mais submisso
que instalasse ao lado
do pequeno grandalhão empacado
um parquímetro.

“Sai daí, ô paquiderme!”
“Isso não é parquinho!”

Trânsito engarrafado,
e o paquiderme
não finda seu empacar.
Passam os dias,
e o paquiderme ali,
estatelado feito estátua
de militar.

E lá vem o guarda do distrito
puxando pela coleira
o soldado submisso
que submete-se
a carregar o parquímetro.
Chega o guarda,
chega o soldado,
parquímetro instalado
e o povo, no trânsito,
aguarda, aguarda,
e o guarda ameaça:

“Ô paquiderme!
se tu não saíres daí,
te cobro trinta dinheiros
por trinta minutos
de parada!
E não me venhas
com cheque-voador,
pois que estou careca
de saber que paquiderme
empacado não tem crédito
na praça!”

Em despeito,
o paquiderme ergue
seu imenso corpinho,
dá um passo pr’um lado
pr’outro
pr’adiante
pr’atrás
estatelando-se exatamente
no mesmo lugar.

“Vou-te cobrar-te aluguel”
vocifera o soldado,
fazendo-se coronel.

E nada.

“Vou-te dar-te uma coronhada”
mas a sociedade protetora
da bicharada aprochega-se
e faz uma barricada,
impedindo a agressão.

O paquiderme
coça a barriga
e sorri.

Sorriem também os curiosos
e até os nervosos
- atrasados para os seus compromissos -
e até os doloridos,
com seus comprimidos anti-dolorosos.
Sorriem os transeuntes,
sorriem travestis e pedintes.
Aos poucos, toda a cidade
acostuma-se a ter
o paquiderme
ali,
encostado,
de terça a terça,
no principal cruzamento
do condado.

E não é um costume
em tom resignado.
Ninguém disse
“É assim mesmo:
os paquidermes empacam...
o que se há de fazer?”

Pelo contrário,
parece que aquele empecilho
lá,
no centrão,
causou uma mudança
nos costumes da população.

Com o paquiderme
ali,
empacado,
o trânsito teve
que ser desviado
e o veloz sistema viário,
habilmente projetado
por hábeis especialistas
bem-formados,
com tantas pontes e pistas
ali:
congestionado.

Ao saber da situação,
o prefeito quase morre,
apesar de não ser cardiopata:
quase morre de congestão.

Olha pela janela
de seu gabinete,
situado
no mais alto
arranha-céu
da região,
e vê,
lá embaixo,
o paquiderme,
empacado;
lá embaixo,
o trânsito,
congestionado;
lá embaixo,
o povão,
estatelado no chão deitado no asfalto comendo bebendo com copos na mão crianças rolando na poeira urbana carrinhos de cachorro quente picolé pinhão pipoca pastel astutos vendedores vendendo o mais novo inútil produto produzido do outro lado do mundo praia-urbana balneário-concreto mar de poças de lama nas sarjetas

O prefeito então percebe
que as pessoas estão
gritando algo
algo que não pode ouvir
com os vidros fechados.
Estatela a janela
bota a cabeça p’ra fora
e agora pode ouvir
e o que ouve
lhe soa como um desaforo:
“Viva o paquiderme!”
“Derrubem os semáforos!”
“Viva a preguiça!”
“Abaixo os automóveis!”
“P’ra quê ter pressa?”
grita em alvoroço
a população.
Em meio à algazarra,
o pobre prefeito distingue
a propaganda de um vendedor
ansioso em divulgar seu produto
anti-poluição:

“Proteja sua derme:
compre o creme
do paquiderme!”

E tudo isso ali,
no veloz sistema viário
habilmente projetado
por hábeis especialista
bem-formados,
com tantas pontes e pistas,
orgulho de sua gestão
obra máxima
ideal de toda uma vida.
Sonhava com o dia
em que morresse
e pusessem seu nome,
estampado,
em todas as placas
que indicassem
o caminho que leva
ao veloz sistema viário.
Morreria por esse dia,
mesmo que não pudesse ver.
E agora ali,
congestionado,
culpa
de um paquiderme
empacado.
“Que vexame!
Gastar um dinheirão,
para fazer
um praião de concreto
para o povão!”

Pobre prefeito.
Não sabe que nada é perfeito.
Não vê a alegria
estampada nas faces
de seus afáveis
eleitores.

Eles, que sempre fizeram
de tudo por ele.

Ele, que sempre faz
de tudo contra eles,
se prepara para fazer
mais uma das suas.

Liga para todos os órgãos que compõem
o corpo governamental
e ordena que limpem as ruas:
“Quero meu veloz
sistema viário
limpinho e funcionando
prefeita
quer dizer
perfeitamente!
Não quero mais ver
esse paquiderme
na minha frente!”

Dito e feito,
em poucos minutos
enormes vassouras
varriam pessoas
p’ro leito das ruas.
Caos total.
Todos correm
gritam
se agitam

“Foge, paquiderme!”
E nada.
O paquiderme
permanece no mesmo lugar.
Nem abana as orelhas.
Nem bocejar boceja.

E todos correm.
“Corre paquiderme!”
E nada.

Como se viesse do nada,
cai do céu então
uma enorme lata
de metal barato
cai do céu
e cai exatamente
no sítio onde situa-se
o paquiderme
cobrindo-o por completo.

Em seguida,
vêm um guindaste
e um caminhão
que levam embora
o paquiderme enlatado.
Atrás segue,
em prantos,
o povo,
numa procissão.

“Comprimiram o paquiderme
enlataram o paquiderme;
em luto, ao prefeito,
diremos não!”

A procissão passa por todo
o veloz sistema viário,
do centrão, pelos subúrbios,
ao mais distante lixão.
No caminho,
aumentam os passos e as vozes
todos saem de suas casas
descem dos edifícios
abandonam seus ofícios.

Todos choram
pelo seu mais gordo irmão.

“Comprimiram o paquiderme
enlataram o paquiderme;
em luto, ao prefeito,
dizemos NÃO!”

Mas de nada adianta tanta reclamação
pois que em poucos minutos
um imenso pelotão abafa com algodão
todos os lamentos e gritos da população.

O luto envolve a cidade
por muitos dias.
Ninguém se conforma
com o fato de ter visto
o paquiderme enlatado,
que nem extrato de tomate,
jogado entre os ratos,
lá no lixão.
Justo ele,
que detestava ratos!

Pobre pequeno paquiderme.
Empacou em local proibido,
e foi banido do centrão.

Já o prefeito,
este não se agüenta
de tanta emoção.
De seu gabinete,
no arranha-céu
mais alto da região,
pode ver
o veloz sistema viário,
templo de sua religião,
fluindo na contínua
corrente dos automóveis,
sente o aroma
do combustível em
combustão,
e sente-se em casa.

Como lembrança do ocorrido,
comprou um pequeno
paquiderme de porcelana
e o pôs no teto
do frigobar.
Pobre prefeito.
Não sabe que lugar de paquiderme
é atrás da porta
com a bunda para o lado de fora.

Com a bunda para o lado de fora,
o prefeito ouve então
um tremendo ruído,
tão estridente
que morde os dentes
e sente o arranha-céu
(o mais alto da região)
tremendo em sua fundação.
O ruído torna-se
cada vez mais alto,
mais alto
mais alto
vira-se de costas
defrontando-se
com as vidraças limpas
mãos nos tímpanos
e vê algo enorme
e corpulento
veloz
voando e voando
em sua direção:

“Um elefante!?!
NÃO!!
UM AVIÃO!!!”

Cena

Luz solar oculta
entre as nuvens
na alvorada chuvosa
de quarta-feira,
em meio às árvores
no quintal da quinta
de meu vizinho mouro.

Calmaria total.
minha amante me serve
um copo com água e sal
esperando para ver se
um espírito me ergue
do gramado e me leva
para qualquer outro lugar.

Mas meu corpo amolece
a cada pingo de chuva
que bate em minha testa.

Vestígios de memória
fazem uma festa em minha cabeça,
acredito estar longe à beça de minha casa
quando, na verdade, basta
pular uma cerca baixa.

“Acerca de usted,
están sus aposentos, darling...”
sussurra minha amante.
Pede que eu me levante
e vá deitar na cama;
diz que se tivesse forças,
me levaria no colo.

Mas eu permaneço imóvel
até que, enfim,
dissolvo no solo.

4 e 5123

Meninas


O Florista


sexta-feira, 21 de novembro de 2008

(O impostor fala à simples senhora da aldeia)

Trago um alfarrábio
e um alfajor
em meu alforje.

Em cada Alfa
ou qualquer lua
sempre forjo
um dragão
e um São
Jorge.

As profecias
de mim fogem
e os profetas
me escorraçam
da aldeia
(é isso,
ou cadeia)

Assim,
de vila em vila
de vilão,
teço minha teia.

Quando digo
“É lua cheia”
é que pretendo
faturar a tua ceia.

Creia ou não creia,
um sangue de mentira
corre em minhas veias;
a falsidade escorre por meu corpo
colando de tal forma em minha pele,
que nem o mais forte homem tira.

Por caridade, então lhe digo, minha senhora:
se tu queres que eu leia a tua sorte,
volta atrás, esquece tua vontade,
te vira, e vai embora...
4 e 5123

Fibras


Canto do Banheiro (Poema Prosaico Número Quinze)

No microcosmo da toalha verde que desvanece
vejo o tempo que se disfarça.
Em cada ponto verde no chão de azulejos brancos
percebo que a toalha
— outrora felpuda —
permuta-se em farpas.
O limo artificial que cai da porta do box
os bonecos que brotam das manchas na parede
os pássaros cantam, lá fora;
e eu, aqui, no canto.
Úmido.
Molhado.
O corpo malhado hematomiza-se mais
do que se as pauladas fossem reais.

A toalha verde complementa-se ao vermelho
mas não há mais vermelho
pois a última gota secou.
Um misto de esgoto e vento polar
cantarola do fundo do ralo:
doce melodia advém do falso relento.
Mergulho em busca do som,
cano abaixo,
entalo no primeiro joelho de PVC,
e não sei mais quem sou.

Nem sei mais se fui
ou se vou.

O que importa é saber se
na próxima
curva de
petróleo
tornado
plástico
poderei encontrar
um espelho d’água
— no qual reflitam-se meus pensamentos.



Prensado em reflexões insanas,
sinto a toalha caindo ao solo,
criando solavancos de pano.
Agarro-me ao fio
que desfia-se de todo o todo
e ergo-me de supetão.
Saio do ralo,
tomo um rodo e
acabo com o lodo acumulado.
E tudo para que não haja o que esquecer.

E nem lembro mais se havia.

Súbito, alguém na rua assovia.


Psicografado de Eustáquio d’Alencar

Laudo poético-criminal

...verborréia hemorrágica,
por aqui já não há.
O que resta é somente
um fruto podre e sem
semente, na mesa de jantar.

As taças de cristal caíram ao chão
e seus cacos perfuram pés descalços
passo a passo, num sádico carinho.

O mordomo adormece morto
no piso de madeira da copa
com um copo entalado na goela

(não houve tempo para um último gole
e sua garganta permanece seca,
engasgando no sangue coagulado)

A festa foi um sucesso:
há resto de comida por todas as frestas
do chão, das paredes, do teto.
E, como era de se esperar,
todos os convidados morreram de abcesso
estomacal, devido à gula e aos excessos. 27113

Círculo

Perto de qualquer lugar
Menos aqui,
Estou muito além,
Muito distante daí.

E daí?

Almejo um destino
Que não vejo
Viejo estoy.
Estonteado de tantos obstáculos
Anos ou séculos
Sem te ter.

Mas não me detenho
Caminho com minhas
Próprias mãos
E não temo o tamanho
Do percurso.

Sigo teu curso
Ondulante
E, antes que te alveje,
Lavo a alma.

Com a ânsia de
Um cão sedento,
Arrebento
Em milhares
De gotas cristalinas
Componho
Cada ponto de tua linha

Alinhavo nossos
Laços desatados
E, neste momento inexato,
Desando a correr
Socorrendo aos teus murmúrios,
Estupefato;
Num lapso, quase que
Sem nenhum ato
Estimulado,
Abro os olhos
E te vejo ao meu lado
A sorrir,
Justamente no ponto
Do qual parti.

22 de 2 de 2, 19:30
IN(Dedos Trêmulos)

Latidos Noturnos

Existe algo de fenomenal (ou fantástico) nos latidos caninos que invadem a madrugada: para um homem, deitado em sua cama, perpetuando uma terrível insônia, o que ele percebe, a princípio, é o seu cachorro latindo, ele e mais alguns cães vizinhos. É que o seu cão – cão atento – já está ouvindo algo que os insones ouvidos humanos só perceberão momentos depois: os latidos caninos que invadem a madrugada vêm como uma onda. E, como uma onda, começam do nada.
Sua origem pode estar num bairro distante, num motivo qualquer, um rato, um lapso, um gatuno. De repente, é como uma reação em cadeia, como uma avalanche: outros cães começam a latir, outros respondem aos latidos, que aumentam sem parar, e a onda de latidos atravessa os bairros, um após o outros, um cão após o outro, latindo sem saber o motivo – e muito menos o sabem seus donos. E assim vai a onda, contínua, enquanto o insone, rolando em sua cama, acompanha a sinfonia itinerante, vinda do sul, aproximando-se mais e mais, os latidos aumentando de intensidade, até que pode presenciar o êxtase à sua volta, o momento máximo, em que parece que o próprio planeta está latindo, êxtase que não pára nunca, segue enquanto houverem cães para responder ao chamado de seus companheiros, mas que para o insone parece que cessa, já que a onda – que veio do sul – segue adiante rumo ao norte, e os cães que antes latiam cansados se calam e assim por diante até o instante em que latem apenas cães que estão muito distantes da cama do insone que, devido ao fenômeno, desistiu de dormir.
Seu cão ainda late; e o do vizinho – persistente – também. Em seguida, se cansam, e se calam.
Mas a sinfonia continua em algum lugar. Ás vezes tenho a impressão de que esses latidos dão a volta ao mundo. Dá até para imaginar aquele cachorro que iniciou toda a bagunça, por causa de um rato – ou qualquer outro fato – ganindo, fuçando, rosnando – dentre outros gerúndios caninos. Depois de muito latir por tal motivo abstrato, chega um momento em que se cansa, desiste, dorme, e depois se cala (nesta ordem).
Horas (ou dias depois), após uma volta interplanetária, a onda retorna ao cão de origem que, ouvindo os latidos aflitos, sem saber o motivo, responde aos seus irmãos, cumprindo sua função de propagar a confusão ad infinitum.

27 de outubro de 2003

Ilmo Sr. Cidadão,

Desprezo ao bom cidadão
que ama a cidade
com tantos andares
dores ardores e ardumes
no couro de cardumes de outros
dos quais suga o seio
ávido, sedento,
de modo que queda seco
o pobre peito.

É muito despeito
não tens respeito
nasceste mal feito
cidadão omisso.
Você diz que não tem nada
a ver com isso
e fica assim
submisso
aos ditames de teus ditadores
impressos em frívolos frios
computadores.

Como podes ter tantos
pudores?
Competes por ouro
e dólares
adoeces se ficas duro
te sentes no escuro
se a água da ducha
não fica quente
tens medo de seguir
em frente
se não consegues emprego
se perdes o arreglo
do gerente.

Vamos, ao menos por hoje
seja demente
enfrente
aqueles que por ti
só sentem nojo
pois não passas
de um pacote de miojo.
Teu patrão
nunca será teu irmão
tampouco partirá contigo
um mero
pedaço de pão.
Quando ele diz
que te estendo a mão
apenas te joga na cara
um pútrido pedaço
de mamão.
Assim como ele,
não és mais que uma máscara
desgastada pela poeira
mau gosto escancaras
com teu asseio
que só te produz mau cheiro
pois que não és uma flor
mas sim um monte de pentelhos
que não quer sentir seu próprio odor.

E ficas aí sentado,
sem tento
igual a um abobado
puro desalento
disfarçado de exemplar
cidadão comportado...

Ora, vamos,
não passas da primeira esquina
se não tiveres um carro
tens nojo de escarro
no entanto
a todo instante não largas
o teu cigarro
tragas tragas
e te estragas
atento aos telejornais
às telebobagens
fazendo viagens
sem sair de casa.

És um caso sério:
és feito em série
foste perfeito na escola
[em todas as séries]
e até hoje és muito sério
és muito servil
és um ser vil
és um pobre imbecil.

Te mata.
Meta a cabeça no bacio.
Talvez te desça a chama
de um pavio
que te inflame a cachola
dando fim ao vazio
rompendo o fio
das idéias infames:
“não reclame,
não reclame!”

Será que não tens fome
de algo que não sabes o nome
algo que não te consome
que não seja um conselho
ou um consolo?
Não?
Então porque tu não somes?

O mundo aqui fora é mais belo,
desprezado cidadão padrão,
cidadão comportado.
Aí dentro, és um prego
[enferrujado]
e teu emprego é teu martelo.

Ilmo. Senhor cidadão,
não passas de um pobre coitado.
23jul3