sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Ao meu amigo

Escrevo poesia como forma de ludibriar a afasia à qual o mundo me condena.
Versos-desabafos afagam meu ego
Sinto-me mais leve com tais brinquedos lúdicos.

Tambosi não teve a mesma sorte
A pa(nela)ranóia depressão foi mais forte
Terço-rosário com contas demais
Berço de pregos para um neném cego.

Foi praga de alguém?
Mau-olhado?
Ou mal amado?

Drama universal
Tambosi trama jornada sem nau
Odisséia de duras pena
Castigo de Zeus
Abandona-te Palas Athena

Pelas tabelas ando com minha cabeça longe de ti.
Traço meu destino herculeurbano
Confundo as identidades que o mundo me traça:
Sísifo, ou Atlas?
Tanto faz, se o peso me destroça
Qual roupa roída por traça
Sinto que em mim reside a praga
Sou caixa de papelão
Incubando milhares de ovos de baratas

Drama universal
Pois que não estamos sós:
Maternidade perniciosa e autofágica:
É isso que todos somos:
Geramos em nós o monstro
Da Sociedade de Tortura de Massas
Cujo sumo nos consome
- nós que tanto consumimos –
Consome a alma,
E o corpo some.

É por isso que devemos então cantar.
Tambosi, tens que cantar
Abrir os braços para a dança das partículas
Sair desse canto obscuro em que te escondes
Verter um cântaro de poesias
Palavras jorrando da moringa da memória
Na mais absoluta amnésia.
Ano após ano esquecer os atropelos
Converte-los – trombadas e apelos –
Em trovas, traços, abraços
Afeto para os aflitos.
Afluentes de fantasia encontram-se
Formando minha amazônica poesia
Que desemboca no oceano da nostalgia.
Depois, em ondas choca-se
Com as irresolutas falésias da metrópole-fadiga.

E por mais que digam
Que tua força esvaiu-se,
Duvido de tal farsa.
Nosso tempo passa
Os dentes caem e
Os osso viram carcaça
Mas ‘inda resta dentro de nós
O lampejo de uma alma devassa
Que devasta ferozes regras e bulas
Desmascara àquele que adula ao seu carrasco.

À borrasca ruem os ritos, valores
Sucumbem ícones e ditos populares
A dona de casa de nossas cacholas
Não é Dolores, não está nos lares:
Ao contrário, está nos bares
É feia
E tem asas:

Arrebata harpiacalmente
Aos pequenos roedores covardes
Que comem sementes nas pradarias incomensuráveis
Nega a censura e repudia a tortura
Não atura desaforos
Desabafa quando lhe melhor convir.

Aproxima-te dessa megera
Que em todos nós habita.
Quem nasce para ser maldito
Nunca há de ser donzela.

Por isso escrevo – e escreves –
Poemas, mesmo que breves,
Pois que senão quem nos devora
Não são aqueles que estão lá fora
E sim aquele que em nós mora:
A nossa própria fera!

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