sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Na Estação

Estava imerso em uma estafa imensa, sem vontade de erguer a carcaça. Sentia o corpo doer. Uma ausência de pensamentos a remoer-me por dentro. Olhava, apático, pela janela, sem perceber quão rápido o dia passa.
É então que vejo chegar à estação uma maria-fumaça. Uma maria-fumaça que chacoalha esta deserta cidade estática. Dela desembarcam dois jovens com ares de desertores, daqueles que abandonam a metrópole em busca de sossego no deserto. Cabelos compridos, violão na mão, barraca, mochilão. Desembarcam e vêm em minha direção – posto que sou o chefe da estação – e me perguntam “por favor, é aqui que fica o topo do mundo?” ao que respondo ‘estação errada: aqui é o FIM do mundo.”
“E qual é o mais isolado de todos?” me perguntam “queremos ficar longe de tudo”
“Tanto faz” respondo “posto que o verdadeiro isolamento encontra-se no ser, não importa muito estar no topo, no fim, ou longe de tudo. Mas porquê vocês, tão jovens, desejam isolar-se assim?”
“Estamos cansados de tudo. Não suportamos mais nada.”
“Então é uma questão de tudo ou nada, não? Pois bem, sejam bem vindos ao fim-do-mundo. Só não esperem encontrar mais alguém depois de mim: eu sou o último. Ah, cuidado com a escada.”E eu fiquei ali, observando aqueles dois se afastarem, afastando-se, afastando-se, até sumirem na cidade que é um inexistência só. Pareciam felizes, ou pelo menos satisfeitos. Carregavam um brilho nos olhos e uma esperança que ofuscava uma oceânica desilusão. Ao longe, um deles pegou o seu violão e, caminhando, dedilhou uma melodia cujo nome poderia ser “Suave”. Suave melodia que até hoje, nos dias de ventania, ainda posso ouvir, mesclada com nuvens de poeira que ofuscam minha visão.

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