No microcosmo da toalha verde que desvanece
vejo o tempo que se disfarça.
Em cada ponto verde no chão de azulejos brancos
percebo que a toalha
— outrora felpuda —
permuta-se em farpas.
O limo artificial que cai da porta do box
os bonecos que brotam das manchas na parede
os pássaros cantam, lá fora;
e eu, aqui, no canto.
Úmido.
Molhado.
O corpo malhado hematomiza-se mais
do que se as pauladas fossem reais.
A toalha verde complementa-se ao vermelho
mas não há mais vermelho
pois a última gota secou.
Um misto de esgoto e vento polar
cantarola do fundo do ralo:
doce melodia advém do falso relento.
Mergulho em busca do som,
cano abaixo,
entalo no primeiro joelho de PVC,
e não sei mais quem sou.
Nem sei mais se fui
ou se vou.
O que importa é saber se
na próxima
curva de
petróleo
tornado
plástico
poderei encontrar
um espelho d’água
— no qual reflitam-se meus pensamentos.
Prensado em reflexões insanas,
sinto a toalha caindo ao solo,
criando solavancos de pano.
Agarro-me ao fio
que desfia-se de todo o todo
e ergo-me de supetão.
Saio do ralo,
tomo um rodo e
acabo com o lodo acumulado.
E tudo para que não haja o que esquecer.
E nem lembro mais se havia.
Súbito, alguém na rua assovia.
Psicografado de Eustáquio d’Alencar
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