Desprezo ao bom cidadão
que ama a cidade
com tantos andares
dores ardores e ardumes
no couro de cardumes de outros
dos quais suga o seio
ávido, sedento,
de modo que queda seco
o pobre peito.
É muito despeito
não tens respeito
nasceste mal feito
cidadão omisso.
Você diz que não tem nada
a ver com isso
e fica assim
submisso
aos ditames de teus ditadores
impressos em frívolos frios
computadores.
Como podes ter tantos
pudores?
Competes por ouro
e dólares
adoeces se ficas duro
te sentes no escuro
se a água da ducha
não fica quente
tens medo de seguir
em frente
se não consegues emprego
se perdes o arreglo
do gerente.
Vamos, ao menos por hoje
seja demente
enfrente
aqueles que por ti
só sentem nojo
pois não passas
de um pacote de miojo.
Teu patrão
nunca será teu irmão
tampouco partirá contigo
um mero
pedaço de pão.
Quando ele diz
que te estendo a mão
apenas te joga na cara
um pútrido pedaço
de mamão.
Assim como ele,
não és mais que uma máscara
desgastada pela poeira
mau gosto escancaras
com teu asseio
que só te produz mau cheiro
pois que não és uma flor
mas sim um monte de pentelhos
que não quer sentir seu próprio odor.
E ficas aí sentado,
sem tento
igual a um abobado
puro desalento
disfarçado de exemplar
cidadão comportado...
Ora, vamos,
não passas da primeira esquina
se não tiveres um carro
tens nojo de escarro
no entanto
a todo instante não largas
o teu cigarro
tragas tragas
e te estragas
atento aos telejornais
às telebobagens
fazendo viagens
sem sair de casa.
És um caso sério:
és feito em série
foste perfeito na escola
[em todas as séries]
e até hoje és muito sério
és muito servil
és um ser vil
és um pobre imbecil.
Te mata.
Meta a cabeça no bacio.
Talvez te desça a chama
de um pavio
que te inflame a cachola
dando fim ao vazio
rompendo o fio
das idéias infames:
“não reclame,
não reclame!”
Será que não tens fome
de algo que não sabes o nome
algo que não te consome
que não seja um conselho
ou um consolo?
Não?
Então porque tu não somes?
O mundo aqui fora é mais belo,
desprezado cidadão padrão,
cidadão comportado.
Aí dentro, és um prego
[enferrujado]
e teu emprego é teu martelo.
Ilmo. Senhor cidadão,
não passas de um pobre coitado.
23jul3
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