quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

DIONISÍACAS

NÚMERO UM

Corpos circulam lentamente
em suas próprias esferas de ação.
Movimento quase inato
estática
sem ruído.

Rumam ao ritmo
de seus próprios remos.
Não correm nem param.
Têm pressa,
mas não parece.

Súbito, um sobressalto,
de supetão,
um solavanco
tudo treme
o terreno voa alto
veias se dilatam
membros martelam impunemente
seus martelos
não há vozes,
porém,
gritos faciais.

Um bovino muge.

Enfim,
como se nada houvesse havido,
a estática ressurge
em pálidas rudes faces,
ávidas do mais denso rouge.

E parece que o leão de pedra,
à porta do palácio,
ruge...

NUMERO DOIS
Ele chegou na sala, em silêncio, quase invisível,
olhou para os lados, viu que a sala estava repleta de corpos
que não o perceberam. Parou exatamente no centro geométrico
do espaço, moveu lentamente a mandíbula
até sua abertura máxima, e disse:
“Não tenho nada a dizer”

O mais alto de todos os presentes
retirou de dentro de seu útero
um enorme ponto de interrogação
e arremessou-o
como se fosse um bumerangue vermelho.
/O sinal ortográfico manteve-se girando no ar
durante todos os instantes
manifestos a seguir./

Na boca semi-aberta do homem ao centro
ainda ecoavam todas as sílabas desordenadamente
diãoternanhiodizendaadinãozertedadinanãonadinhaetc, etc
e etcétera.

O bumerangue decapitava as palavras
antes mesmo que escapassem pela janela.
Não era possível aos olhares
um encontro sincero:
todos eram profundamente desconhecidos.

A porta abriu-se,
ele caminhou até o centro geométrico do espaço,
moveu lentamente a mandíbula até sua abertura máxima,
e disse:
“Ninguém vai dizer nada?”

Mas sua voz falhou
e ninguém o ouviu,
pois todos falavam ao mesmo tempo.

Súbito,
o menos distinto de todos
soltou de seus pulmões um
imenso /CALEM-SE/
que fez o povo caminhar desordenadamente
(pelo ambiente),
fugindo ao desespero produzido
pelo silêncio que se formou.
Como se nada estivesse acontecendo,
aquele que estava no meio
começou a arrancar as tábuas
do chão,
uma após a outra,
ferindo as mãos
e quando o buraco era grande o bastante,
mergulhou num gesto brusco.

Um por um,
todos repetiram o
movimento, o
primeiro, o
segundo, o
seguinte, todos
até o
último, e
quando este
sumiu da sala buraco adentro e
não havia mais ninguém
para testemunhar o fato,
o bumerangue vermelho chocou-se
com o enorme candelabro
desprendendo este
do teto,
caindo,
caindo,
do teto caiado
até o solo,
tapando em definitivo
o buraco.
NÚMERO TRÊS
Luz nova.
Fluoresce de branco a sala esm bancos.
A senhora caminha sem ter
onde descansar sua ancas,
outrora sacanas,
hoje, somente ancas.

Desloca aqueles passos como se fossem todos
- os já pisados em sua longa vida.
Imagina uma cadeira no centro da sala.
Segue a trilha imaginária
que leva até o local.
Pensa em como seria bom estar lá
sentada
descansando suas cansadas ancas
e dar um pouco de paz
aos seus desarticulados joelhos.
(como seria bom que aquela cadeira
Bem lhe coubesse as cadeiras...)

Enquanto caminha,
ouve um insistente ruído
algo que voa em torno de si
despenteando seus cabelos.
Uma mancha vermelha acompanha o ruído
diante de seus míopes olhos
que nada mais focam.

Quando chega junto à cadeira, descobre
que a cadeira não é mais cadeira,
ainda que aparente algo também cadente,
já que a cadeira permutou-se
em candelabro
certamente caído
do teto caiado.

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