sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Fashion

Jazz’s the way. Winton Marsalis trumpet’s the pleasures sounds and Billie Holiday sings the blues. Deleito-me com a doce melodia que emana das caixas falantes e solantes, enquanto aguardo o momento de fotografar. Foto noturna, ou noturna foto, eis a questão! Tão bom é fotografar com as corujas! Pena que elas não freqüentem bares. Pena que elas não gostam de Matisse. Mais tarde, talvez, elam venham a invadir os bares, em busca dos ratos boêmios. Ratos que esgueiram-se pelos cantos, catando restos de humanos alimentos, cantando seu refrão. Por enquanto, somente rotos sapiens apodrecem sobre as mesas e sob os pés de patrões abastados, com suas loiras loreal. De sua beleza de plástico, o ébrio poeta cria arte final. Afinal, até na ausência de identidade pode-se encontrar beleza. E quem não encontrará o belo naquele tinto cabelo? As tela da parede também são tingidas, e o crítico as admira, como se contemplasse uma vagina. Entorno mais uma taça de vinho – tinto – e fito as almas em torno de mim. O pianista debulha um solo com o tesão de um agricultor que separa o joio do trigo. Bebo o vinho contigo, os dedos do músico dançam ao som de seu próprio som. Os vizinhos de mesa tamborilam seus dedos, como se pagodeassem uma caixa de fósforos. E o garçom, com a pressa típica da profissão, samba pandeirando sua bandeja. Poucos percebem, mas é ele o verdadeiro show da noite, sua habilidade de mestre-salas, anônimo entre mil sambistas na passarela. E quase ninguém o vê passar: todos miram ansiosos fixamente o altar do desfile, onde será lançada a última coleção de vestes ridículas, totalmente inspirada nos costumes da década de vinte, démodé e ainda em voga. A professora de yoga na mesa ao lado improvisa sobre a importância das roupas para o equilíbrio psíquico. O freudiano feitichiza um aplauso inconsciente, enquanto imagina o que devem estar fazendo as modelos neste exato momento lá dentro, no camarim. O piano continua a bossanovear um jazz latino e, não sei porque, mas lembro que esqueci de dar comida para o meu cão. Você me pergunta a que horas vai começar o evento e respondo que já começou há muito tempo. Você não entende e sai para tomar um ar. E eu tomo a taça e bebo. Finalmente, u velho barbudo vai ao microfone e anuncia as saias que vão erguer-se ao vento. Preparo meu equipamento, verifico a luz ambiente, encaixo a lente e faço o que tenho que fazer. Entre um clic e outro, dou-me ao luxo de observar a reação dos outros e não em surpreendo com o fato de que o show continua fora do palco. As boca salivando, com barbas babadas e corações a palpitar tornam-se meu alvo. Parece que as meninas “anos vinte” não estão vestindo nada. Meninas de vinte anos; vinte meninas-ânus; vinte vaginas desejadas, desviam toda a atenção das maravilhosas obras que Fashion nos prometeu. Minotauro querendo Teseu; Bacantes em épico banquete. “Senhores, a mesa está posta: ponham-se a postos!” E não perco tempo: fotografo olhos que desejam, perco meu emprego, emprego todo o arsenal de filmes desgarrados de sua função original, jazz de luz, um livro, penso enquanto o corpo trabalha. Preciso de uma editora preciso pagar o aluguel quem vai querer fotos babadas? O bom senso aborda-me novamente, retorno ao trabalho e enquadro as vinte vinte, uma após a outra. Flash! Fashion! Flash! Fashion! Flash! Acabam os filmes, minhas pernas bamboleiam. Mantenho-me firme e vou para a mesa. Finda a orgia ainda vestida. As barbas aplaudem. O jazz torna a pianar. Você volta de seu ar: “perdi muita coisa?” Quase nada. E o cão, em casa, com o estômago vazio...

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