sábado, 24 de janeiro de 2009

Insolfejável melodia

Quem ouviu falar naquela mazela
que martela este corpo que é só seqüela?
corpo-cadáver banhado na cera de mil velas,
copo de leite putrefacto
azedo
despetalado
deitado de peito.

(Uma dentada é suficiente,
rompe-se a cera
e descobre-se a carne
que desvanece)

Um vulto negro esgueira-se
entre as sombras que dançam
nas grossas paredes do esquife.

Insólitas carrancas góticas
guardam o túmulo.
Sem tumulto,
garantem a prometida paz eterna
que reina no úmido aroma da terra.

Último morto deste cemitério,
dispensa os coveiros,
sem muito mistério;
cerra os portões,
encerra sua silenciosa cerimônia
engole a chave do mausoléu
entra em seu sarcófago
e deixa-se p’ra semente


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3 comentários:

  1. Lia e lembrava que sonhei com uma praça duma cidade que não existe e que eu associava com uma que existe - Curitiba. Nessa praça havia nada mais nada menos que dois cemitérios, um com lápides baixas, no estilo Jardim da Paz, outro do tipo comum, com lápide-pobre e lápide-rica.
    E, enquanto eu lia, pensei: teremos que revisar o que escrevemos antes da reforma ortográfica? Mantemos seqüela ou aderimos a (à arcaico) sequela?

    Passei um tempão sem internet em casa. No meu trabalho não se pode visitar blogs, no máximo checar e-mails. Trabalho na Livraria e Sebo Virtual A Traça - http://www.traca.com.br/
    Enfim, com internet de novo, pude visitar, escrito por escrito, o teu blog... e é de uma nostalgia que dói e alivia igual coceira. Ao mesmo tempo me entristece. Comentei da vez passada que: as pessoas daí se comunicam pouco e nada falam a respeito da enchete... Mas retifico e ratifico: RETIFICAÇÂO: a imprensa (escrita, televisiva e online) falou muito sobre as enchentes: RATIFICAÇÂO: os amigos de santa catarina se comunicam pouco.
    Nico, isso não é um puxão de orelha, até porque tu pertences a uma minoria étnica da comunicação em santa catarina...

    Acho que precisamos trocar e-mails, preciso recontactar contigo, meu caro!

    Abraços
    f. r. pruX

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  3. Curioso o teu sonho, meu amigo. Enqüanto (com trema!!!) eu lia o relato de teu sonho, de minha parte, lembrei-me do livro "Incidente em Antares", do Érico Veríssimo, especialmente a parte onde os mortos saem do cemitério e caminham pelas ruas de Antares até o coreto da praça (Trecho que daria um ótimo curta metragem).
    Quanto ao Acordo Pornográfico da Língua Ortoguesa, eu não dou a mínima para ele. Continuarei escrevendo de meu jeito, com todas as acentuações que considerar necessárias - inclusive aquelas que não fazem parte das regras, mas que, para mim, enfatizam o sentido que desejo dar ao texto.
    Quanto ao puxão de orelha, não me dói, posto que "catarina é calado quando convém", ditado absurdo que acabei de inventar, para justificar meu silêncio. E você, como justifica o teu?
    Abraços!
    Ah, apaguei a postagem do teu e-mail, conforme solicitado!

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